quarta-feira, 30 de abril de 2008

Quem deveria ir ao FISL

Que o Fórum Internacional de Software Livre atrai apaixonados pelo assunto, isso não é nenhuma novidade. Que esse público cresce a cada ano, tampouco. Estive lá pelo segundo ano consecutivo, blogando para o JavaBahia, e pude constatar ao vivo a quantidade de aficcionados circulando pelas paletras e stands, exibindo as camisas de seus sistemas operacionais/aplicativos/tecnologias favoritos e, visivelmente, se divertindo.

Mas, na minha opinião, a maioria dessas pessoas já está "conquistada". Conhecem bem as 4 liberdades do SL, os tipos de licenciamento, sabem diferenciar Linus de Linux e já romperam a barreira do "uso porque é gratuito". Chega a ser sem graça "ensinar padre a rezar missa" .

Nas empresas, quando vão selecionar quem serão os "felizardos" que terão tudo pago para ir pro FISL, quem é que eles mandam?! Normalmente, "envia esses caras do software livre para deixarem a gente em paz um tempinho". E os resistentes continuam resistindo...

Durante o evento, pensei na minha própria empresa. A maioria dos que lá estavam eram os diretores que já militam na causa há algum tempo ou membros dos Comitês Regionais do Software Livre, implantados como forma de disseminação da cultura. Mas tem que haver a ligação com aqueles que não tem nem idéia do que está acontecendo no mundo, presos no seu cotidiano apagando incêndios, respondendo e-mails vazios e participando/promovendo reuniões infundadas (tenho a impressão de já ter escrito isso!). Onde estavam os Superintentes, Gerentes de Área ou Divisão, enfim, a liderança média que realmente tem poder transformador nas organizações?

São essas pessoas que deveriam ir pro FISL, para quem sabe estando lá - vendo, ouvindo e sentindo - pudessem começar a perceber que "é verdade.... esse tal de software livre existe mesmo, não é apenas brincadeira...". De forma alguma estou negando a importância do patrocinador, do direcionamento claro vindo da diretoria nem de um planejamento estratégico vivo e efetivo. Mas mudança de cultura não é um simplemente processo Top-Down. Ela ocorre gradativamente e depende muito das gerencias intermediárias. O trabalho colaborativo dentro das empresas passa por aí. Mas que catequizar os ateus é uma tarefa árdua, lá isso é!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O que muda com a Web 2.0

Nessa "odisséia" bazedral pela busca do trabalho colaborativo nas empresas tradicionais, já demos uma passeada por alguns conceitos de software livre, passando por estratégias de atuação, tipos de projeto e motivações pessoais. Ainda seguindo a teoria do Gargalo está na gestão procurei usar uma linguagem simples para auxiliar pessoas não-técnicas a entender um pouco melhor esse mundo, de uma forma imparcial e desprendida de paixões filosófico-políticas. Continuo acreditando que o gestor (ou líder, gerente ou chefe, como queira chamar) precisa compreender como a colaboração ocorre da porta da empresa pra fora (internet) para encontrar os meios de alavancar de fato a cooperação interna.

Nesse contexto, ainda falta abordar uma nova realidade que nos cerca, representada pelo buzzword (espécie de jogada de marketing) Web 2.0. Usado pela primeira vez em 2004, chegou a se tornar o artigo mais citado da Wikipedia na língua inglesa em 2007. Se você "googlar" o termo, obterá mais de 70 milhões de páginas como resposta. Talvez dê um trabalhinho encontrar uma boa definição (até porque não existe um consenso sobre ela), mas pode valer a pena dar uma olhada no Wikipedia e no artigo What Is Web 2.0, da própria empresa (O'Reilly Media) que o criou. Numa linguagem mais fácil, sugiro Entenda o que é Web 2.0, da Folha On-line, e O que é Web 2.0, do Webinsider.

Como não queremos nos tornar especialistas no assunto, mas sim entender o que a Web 2.o tem a ver com trabalho colaborativo, tomarei emprestadas três definições curtas encontradas no ótimo Conceituando o que é Web 2.0:

“Web 2.0 usa a web como plataforma de socialização e interação entre usuários graças ao compartilhamento e criação conjunta de conteúdo." (Guilherme Felitti - repórter do IDG Now!)

“Web 2.0 é um novo paradigma na utilização e criação de web sites mais participativos e colaborativos.” (Fabio Seixas, criador do Camiseteria)

“Sinaliza uma fase na web onde se pratica a liberdade de falar e ser ouvido. É uma consequência natural do desenvolvimento da internet.” (Vicente Tardim, editor do Webinsider)

Esse comentário resume tudo: "Web 2.0 não é uma inovação, é uma mudança de paradigma da web centrada no EGO, para a web centrada no usuário, uma evolução natural que comecou quando “descobriram” que o elemento mais importante da internet não era quem criava os sites e sim o usuário que o visitava. A mudança passou da simples apresentação de conteúdo para a interação básica e hoje a interação das multidões, o já previsto conceito de inteligência coletiva previsto por Pierre Levy. A evolução é muito rápida, basta um piscar de olhos para perder uma fração do processo e ter a nítida sensação de que houve uma revolução." (João Carlos Caribé)

Portanto, independente das tecnologias envolvidas (que são várias, não necessariamente novas), o essencial é que o usuário passa de um mero leitor passivo, para alguém com voz ativa, que produz e consome informações de uma forma fácil, colaborativa e alucinante. Diferentemente do desenvolvimento de software de código aberto, no mundo da Web 2.0 praticamente não é preciso conhecimento técnico (Já experimentou criar um blog no blogger.com? Você não leva mais que 3 minutos!!).

São pessoas acostumadas a contar seu dia a dia e emitir suas opiniões em blogs, postar fotos de viagens no Flickr, resolver problemas usando fóruns de discussão, publicar seus vídeos no YouTube, criar comunidades e se relacionar através do Orkut, bater papo no MSN ou Skype, editar documentos em conjunto usando Wiki ou Google Docs, divulgar suas músicas no MySpace, trocar arquivos usando e-Mule ou BitTorrent, permanecer 100% do tempo conectado usando seus celulares, enviando mensagens enquanto assistem aula. Esses são apenas alguns poucos exemplos do que está acontecendo nesse mundo de total interconectividade.

Esses também são os profissionais que estão nas empresas, a cada dia em maior quantidade. Os mais novos são de uma geração que praticamente nasceu nessa realidade e não percebe o mundo de outra forma. Dentre os mais experientes, alguns conseguem se atualizar. Outros vão ficando pra trás.... De um jeito ou outro, são eles que trabalhan na sua empresa, cujo principal meio de comunicação ainda é o correio eletrônico. E o chefe fica em sua mesa, distribuindo ordens por escrito, ou então convocando reuniões longas e que não levam a lugar algum. E quando ele sai de férias, manda um e-mail para a equipe: "Fulano de tal estará me substituindo e monitorando minha caixa de correio". Fala sério!!! Como se administrar fosse limitado a isso....

Portanto, os executivos devem atentar prioritariamente para dois aspectos:

1) É preciso fornecer infra-estrutura tecnológica interna para possilitar as várias formas de interação que existem na internet (existem ferramentas livres e proprietárias para isso). Se você não fizer isso, os funcionários o farão. E sem você saber. Não duvide que existem hoje, "clandestinos" instalados em num servidor arranjado e colocado num canto qualquer, pelo menos um servidor Wiki ou um fórum de discussão.

2) É fundamental capacitar as lideranças para "falar essa linguagem", conhecer essas ferramentas e propiciar as novas formas de colaboração da Web 2.0. Existem CEOs fazendo isso em grandes empresas, publicando em blogs suas decisões, transformando a gestão em algo mais moderno e transparente. Mas isso precisa chegar na gerência média, aquela que "fica perto do pião". Já li uma vez que os funcionários comumente não demitem-se "da empresa", e sim do seu chefe imediato.

Espero ter ajudado a mostrar que, modismo ou não, a Web 2.0 está mudando as formas tradicionais de comunicação e colaboração. Temos que estar preparados!