domingo, 26 de setembro de 2010

Época de Pensamentos 2.0 - Redes Sociais Corporativas, Estruturas Flexíveis e Adaptabilidade

Neste momento estou em Guarajuba, mais precisamente na entrada de Monte Gordo. São 11:35 de domingo, 26/09/2010. Deixei o carro num Lava Jato, pois esta semana começa o CBSoft. Vem colegas de outros estados, provavelmente darei carona a alguns e o auto está uma vergonha de sujo. Enquanto espero, parei no boteco mais próximo e pedi uma cerveja gelada. Premeditadamente, vim equipado com Notebook, MP4 Player (tocando @maglore, uma banda baiana que descobri nesta semana e que não consigo parar de escutar) e Revista Época Negócios, edição de julho/2010, presente de @alegomes. A matéria de capa diz "Você Ja Era! Conheça as Novas Competencias do Líder do Século XXI". Ainda nem cheguei nela, e já me identifiquei com um pequeno artigo "Um Facebook para Empresas".

Facebook Corporativo

O texto fala do Chatter, um aplicativo da Salesforce.com que permite criar uma rede social exclusiva para os funcionários de uma empresa. É como se misturasse Facebook e Twitter. É possível criar comunidades, seguir e ser seguido. Um recurso para "aumentar a produtividade e a colaboração entre os funcionarios". De alguma forma eu já falei sobre isso nos posts O que muda com a Web 2.0 e "Minha Amiga, a Norma". É o fim do "e-mail Manager", aquele gerente que administra pilotando e-mail. Para mim as Redes Sociais Corporativas são uma tendencia natural, sua adoção é uma questão de tempo, uma evolução das atuais Intranets e ferramentas de e-Groupware e dos Ambientes de Desenvovlimento Colaborativo, também já abordado neste blog. Não sou tão radical quanto o presidente da salesforce.com, Enrique Perezyera, que exagera dizendo que "será o fim da intranet e do e-mail nas empresas", mas me impressionou ler que na própria empresa dele o Chatter reduziu em 40% o uso do e-mail. Um indicativo no mínimo interessante, não acha?

A ferramenta foi testada por 5 mil empresas no mundo, inclusive uma brasileira. Um detalhe: é paga e custa $$ dolares. Mas não é a única alternativa, existem alternativas em software livre como o Liferay, o Elgg e o BuddyPress. Não sei o quanto se comparam ao Chatter em termos de funcionalidade, mas deixo a dica da Noosfero, uma solução livre construída no Brasil pela Colivre, cooperativa de software livre nascida na Bahia. Está sendo utilizada no site do FISL, do SoftwareLivre.org, do LinguÁgil e até no site Dilma na Rede,uma rede social de apoio a candidata à presidencia.

Continuo com a opinião que o gargalo para o crescimento da colaboração interna está na gestão. Cultura, atitutes, comportamentos não se modificam de um dia para o outro, portanto não é uma ferramentas apenas que vai resolver. Mas oferecer uma rede social para seus funcionários seria mais uma forma de promover compartilhamento. Boa parte deles, acredito, já utiliza Facebook, Orkut, Twitter, Linkedin e outras, então não terão a menor dificuldade técnica. Se a ferramenta realmente será efetiva, só o tempo dirá, mas usando uma ferramenta livre não custaria quase nada tentar. E não sou apenas eu - este pobre mortal - quem está falando, é a Época! Vai continuar gerenciando por e-mail? A decisão é sua...

O Grafite e o Diamante

As fichas do LinguÁgil não caem todas de uma vez. Acho que nunca um evento me fez pensar tanto, reavaliar o hoje, buscar reinventar o amanhã. Principalmente a palestra "Desmembrando Pessoas" (ele rebatizou para Desprogramando, para não parecer um mutilador) de Fábio Akita, que eu já tinha visto na web e recomendo a todo mundo. Ao vivo tem outro sabor, sem dúvida. Ainda na Revista Época, me deparei com mais um artigo: "Competência sem ação", de Oscar Motomura.

Ele fala de um conglomerado multinacional que adotou uma estrutura organizacional matricial que implicou em conflitos entre prioridades locais e globais, fazendo com que as unidades fechassem-se cada vez mais em seus próprios negócios e perdessem oportunidades preciosas de cooperação (tema central deste blog, sempre é bom reforçar). Conflitos entre lideres, sistema de avaliação de desempenho falhos, os resultados declinam. Segundo o artigo, "a estrutura matricial gera alto grau de complexidade: processos decisórios confusos, com longas rodadas de negociação para acordos superficiais, e pouca clareza quanto aos niveis de responsabilidade.

Ler esse trecho me fez lembrar a paletra de Akita, quando ele compara as estruturas hierárquicas rígicas com o Grafite, e as baseadas em redes com o Diamante. Com base no mesmo elemento, o Carbono, ele lembra que a estrutura departamentalizada foi inventada após um desastre de trem como forma de identificar mais facilmente os culpados na ocorrencia de novos acidentes. A estrutura molecular do Grafite se parece com os famosos "organogramas" tradicionais, por isso são tão quebradiços. Já o diamante parece com uma rede neural, lembra nosso cérebro, ligações fortes porém mutáveis. Resistencia e Adaptabilidade. A palestra Akita não dá respostas, "apenas" nos fornece elementos para pensar, e muito, sobre como nos comportamos. E como podemos mudar.

A visão de Akita se reafirma nesse trecho da matéria: "Em pleno século 21, quando buscamos nos afastar de modelos mecânicos de comando e controle e avançar rumo a algo mais biológico, com mais autonomia e poder de decisão e uma coordenação baseada em princípios e valores compartilhados, adotar a opção matricial é seguir na contramão. Em tempos em que o contexto de negócios torna-se cada vez mais complaxo, parece essencial tornar as estruturas mais simples, e não o contrário. Se não for para inovar, então a intenção é limitar o poder dos lideres locais?"

Aqui no blog, eu já falei sobre Desfragmentação Emprezarial e Projetizar para Conquistar sugerindo organizações mais leves, um abandono gradativo das estruturas funcionais. Necessariamente essa estratégia nos faria passar por estruturas matriciais (no post eu já ressaltei o problema dos "dois chefes"), então aproveito para deixar esse pequeno alerta sobre alguns riscos. "Simplificar Estruturas", como sugere o artigo da Época, pode não ser algo fácil, mas talvez seja cada vez mais necessário, Por que? Veja como termina o artigo e tire suas proprias conclusões: "E o que dizer de líderes excepcionais que veem seu campo de ação esvaziado e passam a usar uma fração de seu talento, um dia a dia frustrante e desmotivador? É possível falar em avaliação por resultados e "accountability" num contexto como esse?".

Adaptabilidade

Parece uma conspiração, mas virei a página seguinte da Época e achei mais um artigo que parece que junta os dois anteriores. Este é chamado de "Como lidar com novas realidades: Por que as empresas precisa se adaptar profundamente para operar em um mondo cada vez mais complexo". A complexida é definida como "visão de mundo que aceita e procura compreender as mudanças constantes do real e não pretende negar a multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza, e sim conviver com elas.". Se você ler o Manifesto Ágil vai perceber algum desses ingredientes. Coincidência? Hum.... acho que não.

Outro trecho excelente: "Um movimento de invação dessas proporções vai requerer das empresas estruturas mais flexíveis, ágeis e inspiradoras. E para fazer isso elas precisarão conciliar as hierarquias formais e as redes informais existentes em qualquer organização. O organograma unido à pulsão criativa dos grupos formados espontaneamente pode levar as emprsas a um ritmo mais ágil de adaptação" (observe a ligaçào deste texto com as partes anteriores, Facebook Corporativo, e o Diamante e o Grafite). O livro Leading Outside the Lines ("liderando fora das linhas"), de Jon Katzenbachh e Zia Khan defende o balancemanto entre formal e informal como o mais eficaz método de gestão.

É jogando que se aprende. Empresas tem investido em jogos como forma treinar, motivar e integrar funcionários. No livro Gamestorming, seu autor Dave Grai descreve casos de sucesso dos "jogos de conhecimento". Diversão, criatividade, engajamento, "mão na massa" (o post Ócio Criativo aborda um pouco disso). Ele afirma que jogar "é uma ótima forma de dar estrutura e clareza ao ambiente profissional". Você já participou de um Coding-Dojo? Ainda não escrevi sobre isso neste blog (vai chegar a hora), mas dá uma olhada nesse e principalmente nesse post de Vinicius Teles, e nos registros das sessões do grupo Dojo-Bahia. Esse lance de jogo funciona mesmo...

Finalizando esta parte, os 3 artigos em sequencia na Época (e nem cheguei na matéria da Capa...) somados às leituras, conversas e palestras decorrentes do LinguÁgil só me ajudaram a reafirmar convicções e pensamentos anteriores. Precisamos buscar estruturas organizacionais mais flexiveis, valorizar o ludico, as conexões entre pessoas, pensar e agir diferente, buscar o novo. Inspecionar, adaptar.

Agora vou pedir a conta e pagar a 2a cerveja (parece o problema do Buteco, que usamos no último coding-dojo heheh) e ir buscar o carro. Ainda tenho que levar almoço pra galera de casa. Na pré-história o homem saia para caçar e buscar comida, enquanto a mulher cuidava da casa e das crias. Hoje foi só um pouquinho diferente, saí para lavar o carro e buscar comida (no restaurate a Kilo). Escrevi 3 posts (na hora H resolvi juntar tudo num só), ouvi várias vezes as músicas do Maglore. Nada mal. Ah, o carro tá lindo, cheiroso e limpo.

Um comentário:

Rodrigo Fagundes disse...

Não vou comentar se gostei do post - acompanho o bazedral sempre. :)

É incrível como essa crítica às estruturas hierárquicas ainda é atual. Digo isso porque na guerra do Vietnã (salvo engano) os EUA precisaram modificar sua cadeia de comando para usar mais a idéia de "Task Forces", com cadeias mais enxutas e formadas para atingimento de objetivo mais granular, para poder ter maior sucesso em suas empreitadas. Vale a pena fuçar textos sobre isso.

E isso me remete às batalhas sobre projetização, desenvolvimento ágil, gestão por competências etc. Infelizmente não aprendemos nem com o passado nem com outras áreas... Temos que ficar vendendo o velho como se novo fosse. É triste.

Um abraço.