segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sabático Bazedral - Dando um Tempo sem Sair de Dentro

Eu já havia escutado o termo sabático mas não tinha noção exata do que era até ler a edição da revista da TAM, aproveitando minha ida mais recente a Sampa para o JavaOne Brasil. Das definições que encontrei vou transcrever o trecho abaixo, vinda deste site:

"período para parar e refletir, pensar, descansar, curtir, olhar as coisas sob outra perspectiva e dimensão. Avaliar o que sou e o que eu posso ser, criar uma nova condição para o equilíbrio mental, físico e espiritual. Revisão da alma, oxigenação, se comprometer melhor com a visão que Deus lhe deu. Coragem para perceber o novo."

Em 2010 este blog não foi muito ativo, tenho plena consciencia disso. Sem precisar me afastar do trabalho por tanto tempo (Glória Maria ficou 2 anos nessa, segundo a TAM. Ela $pode$), a não ser para umas viagens (e o Show do Pixies no SWU, não posso esquecer), percebi que de certa forma eu - e o Bazedral - estamos passando por uma fase assim. Tenho lido, escutado, conversado, assistido sobre assuntos dos mais diversos, técnicos e não técnicos. Agile tem sido a ponta do iceberg e o pano de fundo para muito aprendizado, reflexão e mudança.

No trabalho, estou vivendo um excelente momento profissional. Eu, que tanto venho estudando e "laboratoriando" sobre colaboração, acho que finalmente consegui ver resultados realmente animadores. Numa equipe pequena, altamente competente e distribuída (Salvador, Sampa, Curitiba, Manaus, Fortaleza), estamos conseguindo misturar Agile & Open Source para o desenvolvimento de um framework Java, o Demoiselle. Scrum no começo, Coding-Dojos no recheio (tem feito uma grande diferença, leia nesse artigo o porque), começamos práticas de XP (até programação em pares remota com o Saros vem rolando), aumentamos a maturidade em testes. Aprendemos na prática o verdadeiro conceito de auto-gerenciamento. O melhor de tudo, porém, foi a comunicação, o feedback, o relacionamento da equipe, a alegria de acordar todo dia e ir trabalhar motivado e feliz, respeitando - a até se divertindo com - as diferenças entre as pessoas. E aprendendo muito com isso.

De eventos, participei de vários: FISL, Consegi, ..., CBSoft, Maré de Agilidade Fortaleza (como palestrante, que honra!), JavaOne Brazil. O ápice deles foi o LinguÁgil 2010. As palestras e o Boteco LinguÁgil (confira alguns videos no canal Vimeo), os altos papos com @alegomes, isso tudo me fez pensar muito, e já estamos tendo consequencias. Começamos a pensar mais "empreendedoristicamente" (não deixe de ler este post sobre a Rede Sigma), criamos o Grupo LinguÁgil, estamos organizando o Maré de Agilidade Bahia, Alagoas e Sergipe (MAREBASE) e o LinguÁgil 2011, vááárias ações de treinamento e capacitação a serem realizadas. O JavaBahia vem recebendo energia nova, pessoas motivadas querendo fazer algo diferente, o grupo precisava.

Pessoalmente, voltei a me interessar sobre poesia, música e esporte. Descobri e virei fã da banda Maglore e, para aprender suas músicas, voltei a tocar (quer dizer, arranhar) violão (outro dia ouvi no rádio: "Violão é o instrumento mais fácil de se aprender a tocar..... mal". Dei muito risada e pensei: "É igual ao PHP" - @mlalbuquerque, não resisti a essa #piadinhaLinguagil). Achei até um maluco que musicou umas coisas que escrevi e agora está me convencendo a aprender a tocar contra-baixo para fazer parte da banda (até agora só tem nós dois, nada de baterista, ainda não ensaiamos juntos nenhuma vez, nunca toquei baixo na vida - mas parece que vou conseguir um emprestado. Tem tudo para dar certo, o punk rock começou bem assim). Me dei de Natal um prancha Uri Valadão novinha, voltei a pegar minhas ondas de bodyboarding na companhia das tartarugas de Scar-Reef. Agora muito mais veloz. Eu, não elas.

Enfim, que ano rico e maravilhoso! Estou trocando o pneu com o carro andando, assim tem sido o meu sabático: dando um tempo sem sair de dentro. É possível mudar e reinventar, basta sair da inércia e se unir a pessoas com pensamentos afins. Ano que vem pretendo compartilhar neste blog muito mais sobre todo esse aprendizado que venho acumulando. Eu precisava desse tempo para processar melhor as informações e evitar escrever - muita - besteira. Bazedral Refactored, o tema será sobre o que vier na telha.

Um sabático pra você também. E feliz 2011!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

CBSoft 2010 - Minhas Impressões

De 27 de setembro a 01 de outubro de 2010 ocorreu em Salvador o Congresso Brasileiro de Software: Teoria e Prática: CBSoft, reunindo vários eventos em um só. O local - O hotel Bahia Othon - belíssimo e muito bem estruturado. Não conhecia o espaço deles para eventos. Gostei muito. Me deixou muito orgulhoso ver a Bahia sediando um congresso desse porte. Em função do Demoiselle Framework temos tido contato com o pessoal da UFBA, especialmente o prof. Manoel Mendonça e o doutorando Glauco Carneiro. Pudemos testemunhar o empenho deles e toda a equipe em fazer um Congresso de primeira. Bem, foram várias palestras, mini-cursos, tutoriais e workshop ocorrendo simultaneamente. Farei um apanhado geral destacando algumas coisas que achei interessantes.

No primeiro dia, basicamente me dediquei a trilha da indústria. Várias palestras relacionadas a Agile, o que achei muito positivo para um evento acadêmico. Eu tinha que conferir. Por um probleminha no controle das inscrições do Serpro, coisa normal num primeiro dia de evento, só pude chegar no final da primeira palestra, dos Correios. Achei estranho o palestrante falar do uso de Agile num esquema de trabalho de fábrica, onde existem equipes específicas de Análise/Projeto, Implementação. Me pareceu um Waterfall disfaçado, mas eu posso ter perdido alguma coisa. Em seguida, Antonio Terceiro e Vicente Aguiar, da Colivre, apresentaram "Desenvolvimento aberto de software livre, usando métodos ágeis, em um ambiente corporativo. Tinha tudo para dar errado, mas não deu". Muito legal ver as dificuldades e soluções encontradas por eles para uso de Agile no desenvolvimento do Noosfero, a plataforma livre de redes sociais utilizada inclusive no FISL e no #dilmanarede. Gerenciar um único produto com vários clientes em diferentes países não é um desafio fácil, mas eles tem conseguido. Na sequencia, várias palestras ótimas sobre Agile, destaque para: Daniel Wildt falando sobre Testes; André Nascimento mostrando o Case da Stefaninni, um exemplo de sucesso do uso de métodos ágeis em uma das células de desenvolvimento; Daniel Cukier apresentando dicas para tratar os problemas culturais na adoção de Agile (muito boa, com direito até ao Melô do Teste Automatizado) e, fechando com chave de ouro, Paulo Caroli mostrando o uso avançado (pelo menos para mim) de Kanban, usando até o Workflow da Starbucks como exemplo. O ponto alto foi a Técnica da Banana, para evidenciar quando uma estória leva tempo demais para ser atendida. Sensacional.

No 2o e 3o dias teve Simpósio Brasileiro de Componentes, Arquiteturas e Reutilização de Software (SBCARS), O Simpósio Brasileiro de Engenharia de Software (SBES) e sessão Demo de Ferramentas. Bastante coisa. Como já disseram os colegas Cleverson ZyC e Marlon Carvalho, trabalhos de boa qualidade técnica e acadêmica, mas em geral faltando entusiasmo dos apresentadores em apresentar e defender suas idéias. Nas palestras do SBCARS, também generalizando, senti falta de enxergar mais aplicação prática no mundo real. Talvez seja esse mesmo o papel da academia, antecipar necessidades futuras, mas para alguém que gosta de realizar coisas de utilidade mais imediata, ficou essa impresão. É notória a importancia que o tema Linhas de Produto de Software vem ganhando na academia. Vale continuar aprendendo sobre o tema e verificando em que contextos a abordagem pode ser aplicada com sucesso (também ficou claro que não é uma "Bala de Prata" que serve para tudo). Tambem pude perceber - e reconhecer - a importância da Engenharia de Software Experimental, que envolve a aplicação do método científico, é uma abordagem fundamental usada por cientistas de todas as áreas do conhecimento para testar hipóteses e sustentar teorias. Entendi que sua aplicação dá mais validade aos experimentos feitos na nossa área. O artigo introdutório deste link, primeira referencia encontrada no Google, pode ajuda-lo a ter uma ideia melhor, se desejar se aprofundar.
Do SBES, duas apresentações que falaram de Código e Software Livre: "A Study of the Relationships between Source Code Metrics and Attractiveness in Free Software Projects", comprovando que a qualidade do código-fonte impacta na atratividade de colaboradores para um projeto open source; "An Empirical Study on the Structural Complexity Introduced by Core and Peripheral Developers in Free Software Projects", concluindo que os desenvolvedores principais de um um projeto Open Source são aqueles que mais introduzem complexidade estrutural (trocando em miúdos, são os que tem mais coragem - e permissão para isso - de mexer nas partes críticas do código). Também gostei da palestra "Is There a Relationship between the Usage of Agile Practices and the Success of SCRUM Software Projects?", vou ler o trabalho escrito, pois fiquei curioso de ver que eles concluíram que algumas práticas ágeis não tem interferencia direta no sucesso de projetos que usam Scrum, como poderíamos pressupor.
Nas demos ferramentas, gostei do Scrum-Half e da apresentação "Uma Ferramenta de Apoio à Gerência de Requisitos Integrada a um Ambiente de Desenvolvimento de Software Centrado em Processos", feita em Ruby como um plugin do Redmine, já com funcionalidades básicas para gerenciamento de Glossário e Casos de Uso. O grande problema ainda é: "Cadê o código-fonte?". Quase nunca estão disponíveis. A resposta é "estamos querendo disponibilizar" ou "me manda um e-mail" ou "ainda não pensamos sobre isso". Lamentável que trabalhos, códigos, ferramentas promissoras fiquem pelo caminho, acabando junto com a obtenção do "canudo", seja ele qual for. Percebo o quanto continua valendo meu post sobre Universidade Pública, Conhecimento Livre...

Ponto para a Profesora Rosana Braga, que na sua apresentação "Engenharia de domínio de linhas de produto com arquitetura orientada a serviços" citou que o código estava disponível no Google Code. Por acaso sentei ao lado dela no almoço de 5a-feira e elogiei a iniciativa. Ela disse orientar sempre seus alunos a disponibilizarem os produtos de seus trabalhos. Ponto para ela e, por tabela e não deve ser por acaso (a USP possui um Centro de Competencia em Sofware Livre, coordenado pelo Prof. Fabio Kon), ICM-USP. Que sirva de exemplo!

Um das melhores apresentações que assisti foi "Evolving an Assistant to Support the Inspection Process through Quantitative and Qualitative Analysis". A hipótese que a automação de uma planilha traria ganhos na execução de um determinado tipo de inspeção foi refutada no trabalho. Apesar do leve nervosismo, a apresentadora passou alegria, energia, estava feliz por ter conseguido enxergar que a abordagem tinha falhas e ainda não agregava o imaginado valor. O experimento precisa ser repetido, evoluido, as falhas na abordagem precisam ser detectadas e sanadas. Muitas vezes aprendemos mais com os erros. "Precisamos de mais trabalhos desse tipo nos congressos", foi o comentário de um dos conhecidos respeitados Doutores (infelizmente não anotei seu nome) que estava na plateia.

Na 5a e 6a pela manhã me envolvi com 2 sessões de Coding-Dojo, não previstas inicialmente no evento. Eu e Márcio Albuquerque fizemos a sugestão na 3a-feira ao prof. Manoel Mendonça, coordenador geral do evento. Imediatamente acatada, ficamos muito agradecidos pela oportunidade de apresentar este tipo de "programação coletiva" que nos permite experimentar linguagens, ferramentas e técnicas (TDD, BDD, Pair Programming, Refatoração) que certamente ajudam a nos tornar melhores profissionais. Foram duas sessões para um publico médio de 15 pessoas. A primeiras delas foi na 5a-feira, linguagem Groovy e desafio "Pedra x Papel x Tesoura". Daniel Cukier, da Locaweb, apareceu e deu a maior força. Na 6a-feira ela conduziu a sessão, usamos Ruby com RSpec/Autospec e o problema foi a distribuição do tesouro. Veja no blog do grupo Dojo-Bahia (a participação é livre, basta entrar na lista!) os registros.


No turnos que não estava no Dojo participei do "MC 08 - Linhas de Produto de Software: Conceitos, Fundamentos e Aspectos Práticos", com o baiano Eduardo Almeida, dentre outras muitas coias atual lider do Reuse in Software Engineering (RiSE).. Além de aprender um pouco mais sobre o tema (uma sugestão para o próximo seria tentar algo menos expositivo, envolvendo alguma dinâmica), pude sentir orgulho de ver um baiano com a devida projeção e reconhecimento. Inteligencia, nós temos. Iniciativa, nem tanto...

Já concluindo, algumas impressões registradas em twitter.com/serge_rehem:

#cbsoft Impressão 1: Todo mundo quer criar SUA ferramenta. Não vejo esforços de se juntar a projetos OpenSource + avançados, q fazem o mesmo
#cbsoft Impressão 2: Poucos códigos-fonte produzidos na Academia são disponibilizados em licença sw livre. "Me manda email q te passo" #fail
#cbsoft Impressão 3: Muitos trabalhos preocupam-se mais em provar/refutar hipóteses. Utilidade prática no mundo real parece menos importante web
#cbsoft Impressão 4: Muitos trabalhos focados em Modelos, Diagramas, Documentos. Queria ver + sobre #codigo, único artefato q #roda de fato
#cbsoft Impressão 4: Fazendo justiça, hj de manhã 2 apresentações legais q falaram de #codigo. Ambas relacionadas a sw livre. Coincidencia?!
#cbsoft Impressão 5: As metodologias ágeis ganhando +notoriedade na academia. Esperamos ver +trabalhos científicos no tema #pontoPositivo
#cbsoft Impressão 6: "Linha de Produto de Software" parece ser a nova moda da Engenharia de SW na academia
#cbsoft Impressão 7: Apesar da qualidade academica dos trabalhos, faltou #entusiasmo em algumas apresentações
#cbsoft Uma dúvida no ar: #CloudComputing "ainda não despertou" ou "já não mais desperta" o interesse da academia? Senti falta do tema...

Não pude assistir Identifying Code Smells with Multiple Concern Views do amigo Glauco Carneiro da UFBA, mas fiquei muito feliz em saber que foi premiado o melhor artigo do evento! O Demoiselle tem sido usado como "cobaia" e estamos muito animados com o andamento dos trabalhos.

Bem, finalizo dizendo que foi muito proveitoso participar do CBSoft 2010, em vários aspectos. Parabéns a todos que organizaram e apresentaram trabalhos! Estou com o CD com os trabalhos escritos, agora é dar uma geral e aprofundar alguns estudos. Agradeço ao Serpro por me dar essa oportunidade. Oficialmente fora da Academia desde 2005, quando conclui um MBA em Adm na Unifacs, participar do evento me fez ter vontade de voltar de retornar, quem sabe um mestrado. Tentando focar nos temas de meu interesse: Software Livre, Agile, Frameworks, Linguagens de Programação, etc, etc. Na minha época de estudante eu não dei o devido valor a esses eventos. Graças ao JavaBahia, que me abriu inumeráveis oportunidades e experiencias, pude descobrir o quanto são importantes os conhecimentos, o networking, o "abrir a cabeça" para novos temas, o "estar antenado", o desenvolver visão crítica (sem ser ranzinza), o querer sempre aprender e compartilhar conhecimentos. Nosso estado, nosso país, nosso planeta, precisam de gente desse tipo. Da minha maneira, estou procurando fazer minha parte. E sua empresa? E você?

domingo, 26 de setembro de 2010

Época de Pensamentos 2.0 - Redes Sociais Corporativas, Estruturas Flexíveis e Adaptabilidade

Neste momento estou em Guarajuba, mais precisamente na entrada de Monte Gordo. São 11:35 de domingo, 26/09/2010. Deixei o carro num Lava Jato, pois esta semana começa o CBSoft. Vem colegas de outros estados, provavelmente darei carona a alguns e o auto está uma vergonha de sujo. Enquanto espero, parei no boteco mais próximo e pedi uma cerveja gelada. Premeditadamente, vim equipado com Notebook, MP4 Player (tocando @maglore, uma banda baiana que descobri nesta semana e que não consigo parar de escutar) e Revista Época Negócios, edição de julho/2010, presente de @alegomes. A matéria de capa diz "Você Ja Era! Conheça as Novas Competencias do Líder do Século XXI". Ainda nem cheguei nela, e já me identifiquei com um pequeno artigo "Um Facebook para Empresas".

Facebook Corporativo

O texto fala do Chatter, um aplicativo da Salesforce.com que permite criar uma rede social exclusiva para os funcionários de uma empresa. É como se misturasse Facebook e Twitter. É possível criar comunidades, seguir e ser seguido. Um recurso para "aumentar a produtividade e a colaboração entre os funcionarios". De alguma forma eu já falei sobre isso nos posts O que muda com a Web 2.0 e "Minha Amiga, a Norma". É o fim do "e-mail Manager", aquele gerente que administra pilotando e-mail. Para mim as Redes Sociais Corporativas são uma tendencia natural, sua adoção é uma questão de tempo, uma evolução das atuais Intranets e ferramentas de e-Groupware e dos Ambientes de Desenvovlimento Colaborativo, também já abordado neste blog. Não sou tão radical quanto o presidente da salesforce.com, Enrique Perezyera, que exagera dizendo que "será o fim da intranet e do e-mail nas empresas", mas me impressionou ler que na própria empresa dele o Chatter reduziu em 40% o uso do e-mail. Um indicativo no mínimo interessante, não acha?

A ferramenta foi testada por 5 mil empresas no mundo, inclusive uma brasileira. Um detalhe: é paga e custa $$ dolares. Mas não é a única alternativa, existem alternativas em software livre como o Liferay, o Elgg e o BuddyPress. Não sei o quanto se comparam ao Chatter em termos de funcionalidade, mas deixo a dica da Noosfero, uma solução livre construída no Brasil pela Colivre, cooperativa de software livre nascida na Bahia. Está sendo utilizada no site do FISL, do SoftwareLivre.org, do LinguÁgil e até no site Dilma na Rede,uma rede social de apoio a candidata à presidencia.

Continuo com a opinião que o gargalo para o crescimento da colaboração interna está na gestão. Cultura, atitutes, comportamentos não se modificam de um dia para o outro, portanto não é uma ferramentas apenas que vai resolver. Mas oferecer uma rede social para seus funcionários seria mais uma forma de promover compartilhamento. Boa parte deles, acredito, já utiliza Facebook, Orkut, Twitter, Linkedin e outras, então não terão a menor dificuldade técnica. Se a ferramenta realmente será efetiva, só o tempo dirá, mas usando uma ferramenta livre não custaria quase nada tentar. E não sou apenas eu - este pobre mortal - quem está falando, é a Época! Vai continuar gerenciando por e-mail? A decisão é sua...

O Grafite e o Diamante

As fichas do LinguÁgil não caem todas de uma vez. Acho que nunca um evento me fez pensar tanto, reavaliar o hoje, buscar reinventar o amanhã. Principalmente a palestra "Desmembrando Pessoas" (ele rebatizou para Desprogramando, para não parecer um mutilador) de Fábio Akita, que eu já tinha visto na web e recomendo a todo mundo. Ao vivo tem outro sabor, sem dúvida. Ainda na Revista Época, me deparei com mais um artigo: "Competência sem ação", de Oscar Motomura.

Ele fala de um conglomerado multinacional que adotou uma estrutura organizacional matricial que implicou em conflitos entre prioridades locais e globais, fazendo com que as unidades fechassem-se cada vez mais em seus próprios negócios e perdessem oportunidades preciosas de cooperação (tema central deste blog, sempre é bom reforçar). Conflitos entre lideres, sistema de avaliação de desempenho falhos, os resultados declinam. Segundo o artigo, "a estrutura matricial gera alto grau de complexidade: processos decisórios confusos, com longas rodadas de negociação para acordos superficiais, e pouca clareza quanto aos niveis de responsabilidade.

Ler esse trecho me fez lembrar a paletra de Akita, quando ele compara as estruturas hierárquicas rígicas com o Grafite, e as baseadas em redes com o Diamante. Com base no mesmo elemento, o Carbono, ele lembra que a estrutura departamentalizada foi inventada após um desastre de trem como forma de identificar mais facilmente os culpados na ocorrencia de novos acidentes. A estrutura molecular do Grafite se parece com os famosos "organogramas" tradicionais, por isso são tão quebradiços. Já o diamante parece com uma rede neural, lembra nosso cérebro, ligações fortes porém mutáveis. Resistencia e Adaptabilidade. A palestra Akita não dá respostas, "apenas" nos fornece elementos para pensar, e muito, sobre como nos comportamos. E como podemos mudar.

A visão de Akita se reafirma nesse trecho da matéria: "Em pleno século 21, quando buscamos nos afastar de modelos mecânicos de comando e controle e avançar rumo a algo mais biológico, com mais autonomia e poder de decisão e uma coordenação baseada em princípios e valores compartilhados, adotar a opção matricial é seguir na contramão. Em tempos em que o contexto de negócios torna-se cada vez mais complaxo, parece essencial tornar as estruturas mais simples, e não o contrário. Se não for para inovar, então a intenção é limitar o poder dos lideres locais?"

Aqui no blog, eu já falei sobre Desfragmentação Emprezarial e Projetizar para Conquistar sugerindo organizações mais leves, um abandono gradativo das estruturas funcionais. Necessariamente essa estratégia nos faria passar por estruturas matriciais (no post eu já ressaltei o problema dos "dois chefes"), então aproveito para deixar esse pequeno alerta sobre alguns riscos. "Simplificar Estruturas", como sugere o artigo da Época, pode não ser algo fácil, mas talvez seja cada vez mais necessário, Por que? Veja como termina o artigo e tire suas proprias conclusões: "E o que dizer de líderes excepcionais que veem seu campo de ação esvaziado e passam a usar uma fração de seu talento, um dia a dia frustrante e desmotivador? É possível falar em avaliação por resultados e "accountability" num contexto como esse?".

Adaptabilidade

Parece uma conspiração, mas virei a página seguinte da Época e achei mais um artigo que parece que junta os dois anteriores. Este é chamado de "Como lidar com novas realidades: Por que as empresas precisa se adaptar profundamente para operar em um mondo cada vez mais complexo". A complexida é definida como "visão de mundo que aceita e procura compreender as mudanças constantes do real e não pretende negar a multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza, e sim conviver com elas.". Se você ler o Manifesto Ágil vai perceber algum desses ingredientes. Coincidência? Hum.... acho que não.

Outro trecho excelente: "Um movimento de invação dessas proporções vai requerer das empresas estruturas mais flexíveis, ágeis e inspiradoras. E para fazer isso elas precisarão conciliar as hierarquias formais e as redes informais existentes em qualquer organização. O organograma unido à pulsão criativa dos grupos formados espontaneamente pode levar as emprsas a um ritmo mais ágil de adaptação" (observe a ligaçào deste texto com as partes anteriores, Facebook Corporativo, e o Diamante e o Grafite). O livro Leading Outside the Lines ("liderando fora das linhas"), de Jon Katzenbachh e Zia Khan defende o balancemanto entre formal e informal como o mais eficaz método de gestão.

É jogando que se aprende. Empresas tem investido em jogos como forma treinar, motivar e integrar funcionários. No livro Gamestorming, seu autor Dave Grai descreve casos de sucesso dos "jogos de conhecimento". Diversão, criatividade, engajamento, "mão na massa" (o post Ócio Criativo aborda um pouco disso). Ele afirma que jogar "é uma ótima forma de dar estrutura e clareza ao ambiente profissional". Você já participou de um Coding-Dojo? Ainda não escrevi sobre isso neste blog (vai chegar a hora), mas dá uma olhada nesse e principalmente nesse post de Vinicius Teles, e nos registros das sessões do grupo Dojo-Bahia. Esse lance de jogo funciona mesmo...

Finalizando esta parte, os 3 artigos em sequencia na Época (e nem cheguei na matéria da Capa...) somados às leituras, conversas e palestras decorrentes do LinguÁgil só me ajudaram a reafirmar convicções e pensamentos anteriores. Precisamos buscar estruturas organizacionais mais flexiveis, valorizar o ludico, as conexões entre pessoas, pensar e agir diferente, buscar o novo. Inspecionar, adaptar.

Agora vou pedir a conta e pagar a 2a cerveja (parece o problema do Buteco, que usamos no último coding-dojo heheh) e ir buscar o carro. Ainda tenho que levar almoço pra galera de casa. Na pré-história o homem saia para caçar e buscar comida, enquanto a mulher cuidava da casa e das crias. Hoje foi só um pouquinho diferente, saí para lavar o carro e buscar comida (no restaurate a Kilo). Escrevi 3 posts (na hora H resolvi juntar tudo num só), ouvi várias vezes as músicas do Maglore. Nada mal. Ah, o carro tá lindo, cheiroso e limpo.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Bazedral - Pensamentos e Dicas para uma Empresa mais Colaborativa

Foi muito legal a apresentação feita no FISL 11. O público superou minhas expectativas, ainda mais se tratando de uma palestra as 13h. Não sei se foi por causa do título, pois achei que "Explorando a Cultura Colaborativa das Comunidades de Software Livre" já tava meio manjado e não atrairia interesse.



Estão aí os slides. Se quiser contribuir esteja à vontade para comentar. Será muito bem vindo!

domingo, 18 de abril de 2010

Universidade Pública, Conhecimento Livre - Os 3Ps para uma Produção Acadêmica Aberta

Quando eu me formei Bacharel em Infomática pela UCSal, em 1996, a internet estava começando seu "boom" no Brasil. Uma das cópias da minha monografia (assim como todas da época) sobre comunicação em ambientes heterogêneos usando sockets (naquele tempo isso era novidade para muitos!) foi disponibilizada na biblioteca da universidade (bom, você deve imaginar que a essa altura o arquivo texto e os códigos-fonte foram pro espaço, num dos HDs queimados da vida). Creio que atualmente ainda seja assim. Até hoje fico pesando, "será que alguém chegou a usar minha monografia como referência para um trabalho"?

Estamos na era da Web 2.0. Redes sociais, blogs, wikis "pipocando" por aí, um mundo de conhecimento virtual à nossa disposição. Independente de qual o curso, computador se tornou ferramenta indispensável, portanto os trabalhos já nascem digitais (é... devem existir alguns heremitas que entregam datilografado - e ainda pagam para isso, pois escrevem é "na mão"). Será mesmo que ainda faz sentido apenas entregar oficialmente uma cópia impressa, para que os trabalhos científicos fiquem empoeirando nas plataleiras da biblioteca universitária, esperando ser encontrado por algum explorador aventureiro? Acho que é hora de dar o próximo passo.

O Brasil é referencia mundial no uso e incentivo a "esse tal de Software Livre", muito por mérito das políticas do atual governo. Empresas públicas devem utilizar e contratar prioritariamente software de código aberto. As prestadoras de serviço foram obrigadas entrar no jogo, para continuarem competindo. Ainda estamos muito presos, porém, à economia na aquisição de software. O efetivo compartilhamento de conhecimento está longe de acontecer em larga escala. Via de regra a gente quer mesmo é "usar sem pagar" (o "grátis" - popular 0800 - tem uma sedução impressionante!) - a primeira das 4 Liberdades do Software Livre, mas se interessam muito pouco em colaborar para melhorar aquela solução (as liberdades de Estudar, Copiar e Distribuir). É cultural. Mudar leva tempo. Família e escola precisam educar suas crianças para uma postura mais colaborativa. Só que não precisamos esperar elas crescerem. O governo poderia tomar atitudes imediatas para começar a modificar a realidade. E nós, também.

Há algum tempo escrevi no meu blog pessoal sobre Software Livre nas universidades, imaginado por que muito código-fonte não é disponibilizado, fica preso "debaixo do braço"dos seus autores. Evoluindo este pensamento, vou além da questão do software. Acho que deveriam obrigadoriamente ser disponibilizados na internet - sobre alguma licença Creative Commons - todo os trabalhos produzidos em universidades públicas, principalmente Trabalhos de Conclusão de Curso de graduação ou pós-graduação, Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado. E mais, que todos os códigos produzidos, em se tratando de Informática, fossem liberados sobre alguma licença livre, como a GPL. Seria uma maneira quase que óbvia de garantir à sociedade o retorno do investimento que ela mesma (leia-se: nós, que pagamos impostos) vem fazendo nesses estudantes. É natural que seja público o conhecimento produzido numa instituição pública.

A educação tem um papel fundamental para o desenvolvimento de qualquer país. O que a academia brasileira está fazendo a respeito do tema aqui tratado? As universidades públicas tem alguma disciplina que fale de Software Livre e mostre que não se trata de caridade? Coordenadores de Cursos, Professores e Orientadores estão atentos ao assunto? Alunos são estimulados a disponibilizar na web o produto de seu estudo? Aprendem sobre trabalhar em comunidades virtuais? Livros sobre o assunto (mais abaixo sugiro alguns) são disponbilizados na biblioteca e indicados como referencia para trabalhos individuais e em equipe? Há muito o que ser feito.

Retomo o assunto apresentando uma estratégia de implantação batizada aqui de 3Ps: Política de Governo, Portal e Participação.

Política de Governo

Para dar certo e ter chance de continuidade, tudo começa por aí, não tem jeito. A política faz o papel da estratégia. É a direção, o rumo, o norte. Para onde tudo aponta. Ministério da Ciencia e Tecnologia junto com da Educação (são os dois que enxergo mais relacionados) precisariam normatizar a obrigatoriedade da publicação digital de todo o conhecimento produzido na Universidade Pública (ideal é que valesse também nas particulares, mas acho que o governo tem esse poder). Talvez seja preciso um Projeto de Lei para oficializar a questão, tratar eventuais casos de exceção. Taí um tema candidato a ser "apadrinhado" por algum Deputado interessado na causa.

Portal

De nada adiantaria a Política sem os instrumentos necessários para viabiliza-la. É fato que hoje cada um já pode individualmente decidir publicar seus trabalhos em suas páginas pessoais (é o que venho já venho fazendo em Meu Lugarejo), blogs ou redes sociais, mas ficaria tudo espalhado e misturado com o maravilhoso caos de informação que já temos hoje (pelo menos graças ao Google, temos um meio efeciente de busca). Me lembrei de três iniciativas que poderiam servir de referencia: o Portal de Software Público Brasileiro (do Ministério do Planejamento), a Incubadora Virtual (da Fapesp) e a Open Source University Meetup - OSUM (da recentemente adquirida Sun Microsystems. Veremos o que a Oracle fará).

Para mim, o Brasil precisaria de uma identidade própria. Uma espécie de Portal da Universidade Livre, ou qualquer nome mais criativo que venha a surgir. Um aluno não receberia seu Diploma ou Certificado de Conclusão antes de comprovar a disponibilização do seu trabalho. Teríamos um gigante repositório de conhecimento e fonte de pesquisa genuinamente Brasileiro. O mar onde os rios acadêmicos de todo o país iriam desaguar.

Participação

Os desdobramentos do direcionamento e instrumentação proporcionados pelos dois primeiros Ps são ilimitados. À medida que participam, mestres e discípulos formarão suas redes de colaboração antes mesmo do resultado final. Por que disponibilizar apenas o produto pronto, quando podemos compartilhar todo o "processo de gestação", obtendo feedback e "trocando o pneu com o carro andando"? Muitos que só queriam ser livrar da faculdade e "pegar o canudo" poderão ser infectados pelo vírus da internet 2.0, sendo instigados a dar continuidade aos seus trabalhos, mesmo que seja "apenas" ajudando aqueles que se interessam pelo mesmo tema.

Uma monografia e um projeto de software modestos (porém baseados numa idéia inovadora, às vezes até menosprezados por incompreensão dos orientadores ou falta de habilidade de escrita/codificação do aluno) poderiam se tornar um sofware livre de sucesso (mantido em seu próprio ambiente virtual, como o SourceForge.net) pelo simples fato de terem sido disponibilizados e formado uma comunidade de interessados. Tudo isso independente da vontade do seus autores principais (se participarem, melhor; do contrário, outros darão continuidade). Pesquisas excelentes poderão ter vida contínua ao invés de ficarem engavetadas. Na história, quantas teorias científicas incompreendidas em sua época foram redescobertas em pesquisas futuras que transformaram seus autores em grandes gênios post-mortem?

Pessoas querem espaço para falar e ser ouvidas. E fazem cada vez mais questão disso. Ganham reputação, uma "moeda" muito importante (isso merece um post futuro!) e já tradicional no meio acadêmico que torna-se essencial nesta "era 2.0". Quantidade de papers publicados, citações em outros trabalhos, orientandos formados, ..., número de seguidores no twitter, leitores do Blog ou de amigos no Orkut/Facebook, ...., no fim é tudo a mesma coisa.

Com participação efetiva, o Portal da Universidade Livre se tornaria um grande ponto de encontro, um catálogo de conhecimento produzido por pessoas e grupos interconectados internamente e também a diversas outras redes.

Concluindo

As idéias aqui expostas independem da área de conhecimento. Computador e internet fazem parte do mundo universitário em geral, além das ciências exatas. O Brasil pode e deve estimular a pesquisa científica e a cultura colaborativa, não apenas através do discurso inflamando e empolgante de alguns (por falar nisso, sou fã das palestras de Sérgio Amadeu, alguém que vem falando e fazendo!), mas também de políticas e ações objetivas e coordenadas. A estratégia dos 3Ps é a forma que encontrei de sugerir algo concreto.

Como não sou academico nem político, procurei fazer uso da própria Web 2.0 para expor o que penso e ouvir outras opiniões, favoráveis ou contrárias. O resultado é este post no bazedral, um blog que trata exatamente de colaboração (no texto, repare que linkei para alguns outros posts relacionados). Vamos ver se ele chega aos olhos e ouviros de Políticos e representantes de ONGs, Diretórios Estudantis, Centros Acadêmicos ou Fundações de Amparo a Pesquisa.

Critique, divulgue, cite casos de sucesso e insucesso, discorde, twitte, comente, tenha aptitude 2.0, se importe. Se você é aluno e ainda não o fez, comece já a disponibilizar sua produção. Se é professor, discuta com a turma, coloque o tema em pauta, estimule-os a publicar seus trabalhos na web, onde quer que seja. Só não fique indiferente e inerte. Isso sim, não muda nada.

Algumas sugestões de leitura

Listei aqui dicas que tem me feito compreender melhor o mundo atual e as perspectivas para o futuro. Divirta-se!